Vivemos hoje no começo
do século XXI, num mundo intensamente inquietante e, ao mesmo tempo, repleto de
maiores promessas para o futuro. É um mundo inundado pela mudança, marcado por
graves conflitos, tensões e divisões sociais, bem como a destruição do
ambiente natural em nome da tecnologia moderna. Não obstante, temos a
oportunidade de controlar nossos destinos e dar um outro rumo em nossas vidas,
o que era inimaginável em gerações anteriores.
Vivemos no contexto de
uma nova ordem social que abalou as instituições políticas e econômicas, que
alterou valores que repercutem diretamente nas relações entre os indivíduos,
entre culturas e países, fazendo emergir novas formas de organização social e sociabilidades.
Como se desenvolveu
este mundo? Porque as nossas condições de vida são tão diferentes das dos
nossos pais e avós? Que rumos tomarão no futuro os processos de mudanças? Essas
questões são as principais interrogações da Sociologia.
A maioria de nós vê o
mundo a partir das nossas próprias experiências de vida, com as quais estamos
familiarizados. A Sociologia mostra que é necessário adotar um olhar diferente
para compreendermos as razões pelas quais agimos. Ensina-nos que o que
consideramos natural, inevitável, bom e verdadeiro pode não o ser, e que
tomamos como dado nas nossas vidas é fortemente influenciado por forças
históricas e sociais.
A Sociologia é o estudo
da vida social humana, sendo seu objetivo central compreender o nosso próprio
comportamento enquanto seres sociais. Nesse aspecto, a maior interrogação da
Sociologia é buscar respostas para compreender o que é a sociedade, de que
forma os seres humanos se organizam em diferentes tipos de sociedades, criando
culturas, que englobam as mais variadas formas de ser e de pensar dos povos e
suas diversas visões de mundo e modos de vida que compreendem a educação, a
política, a ciência e o conhecimento, os sistemas econômicos e religiosos. Tudo
isto engloba a vida em sociedade. Nada existe fora da sociedade, vistos que as
leis, as crenças, a produção do conhecimento são frutos das ações humanas.
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A cultura
antes de mim: é tarefa da Sociologia
investigar as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que nós
fazemos de nós próprios.
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As formas de convívio
social são muito diversificadas, pois cada cultura, cada povo, tem suas regras
particulares de convivência humana. Por outro lado, as condições de convivência
podem se modificar, de acordo com certas modificações na sociedade. A situação
da mulher, por exemplo, modificou-se radicalmente tanto no Brasil, como em várias
outras partes do mundo. No entanto, apesar das conquistas frutos de muitas
lutas por direitos, a discriminação e os vários tipos de violência contra
mulher ainda são evidentes em muitos lugares.
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Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2014/04/05/afeganistao-inicia-eleicao-presidencial.htm#fotoNav=34 |
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Números de taxas (em 100 mil mulheres, de homicídios femininos. Brasil 1980\2010. Fonte:www.mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_mulher.pdf |
Na primeira imagem, mulher afegã mostra o dedo manchado de tinta após votar em um centro eleitoral de Herat, no Afeganistão, em 2014. Apesar da obtenção do direito ao voto, as afegãs enfrentam uma situação de profunda desigualdade em relação aos homens: são forçadas pela tradição a cobrir o corpo e o rosto com a burca e a casar por determinação de suas famílias. A quem interessa manter essa tradição?
Na segunda imagem, dados do mapa da violência demonstram que o aumento dos casos de violência contra a mulher no Brasil, triplicou em 30 anos (1980 a 2010), representando um aumento de 217,6 % nos quantitativos de mulheres vítimas de assassinato. Muitos casos de violência doméstica, podem ser entendidos a partir de traços de uma cultura
autoritária e machista onde a mulher é considerada uma propriedade
do homem.
A pesquisa sociológica
é um instrumento importante utilizado pelos sociólogo para a compreensão da
realidade social.
Apesar de termos nossa própria individualidade, somos
de alguma forma condicionados pela sociedade. Uma vez socializado
(integrado à cultura em que vive), o homem está sujeito a regras sociais, as quais
em muitos momentos de sua vida deve submeter-se. A vida do indivíduo é
condicionada por decisões e escolhas que ocorrem fora de seu alcance. Se formos
pensar em algo como a política, sabemos que, nas democracias modernas, embora
os governantes sejam eleitos pelo voto popular – direito conquistado a partir
de um longo processo histórico – o grupo que chega ao poder elabora leis e toma
decisões que afetarão a vida de todos. Outro exemplo desse condicionamento é o
trabalho, podemos até não gostar de trabalhar ou odiar nosso chefe, mas muitas
vezes somos obrigados a nos enquadrar às regras do nosso local de trabalho, se
quisermos manter o emprego, o que garante nossa sobrevivência na sociedade
capitalista, onde tudo está à venda.
Entender a sociedade em
que vivemos também significa saber que há muitas diferenças e que é preciso
olhar para elas. É muito diferente nascer e viver numa favela, num bairro rico,
num condomínio fechado ou numa área do sertão nordestino exposto a longos
períodos de seca. Essas desigualdades promovem diferentes formas de ser, de
agir e de pensar nas pessoas que vivem em cada um desses ambientes.
SECA: PROBLEMA NATURAL OU POLÍTICO?
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Em Quixadá (CE) é cada vez mais
raro encontrar água própria para o consumo humano.
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Ao buscar entender o
que é a sociedade, é necessário destacarmos que a Sociologia oferece uma
pluralidade de explicações e respostas, na tentativa de tentar compreendê-la.
Para compreender a sociedade, partimos do princípio de que o homem possui a constante necessidade de interagir com o
outro, é só a partir do convívio com os seus semelhantes que ele se desenvolve
como ser humano.
Diante disto, dentre
algumas definições para o conceito de sociedade podemos citar:
Do latim, “societas”,
que significa “associação amistosa com outros”, a sociedade também é definida
como o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, e costumes. Em
outras palavras, a sociedade pode ser vista enquanto coletividade organizada e
estável que ocupa o mesmo território, que fala a mesma língua, compartilha a
mesma cultura, ou seja, um grupo de pessoas que se vinculam em razão de
semelhanças étnicas, culturais, políticas e/ou religiosas.
Também podemos entender
sociedade como sendo todo o complexo de relações dos homens com seus
semelhantes. A sociedade é caracterizada por um conjunto de relações humanas
marcadas pela pluralidade, conflito e cooperação entre os indivíduos.
Tais relações geram diversos tipos de instituições de caráter político,
econômico, religiosos, culturais etc.
Instituições sociais,
são formas de organização social como a família, igreja, a escola, organizações
governamentais estão presentes em nossa vida desde cedo, nos socializando,
nos ensinando a viver em sociedade, a assimilar uma determinada cultura, a
partir da difusão de valores, ideias, leis e crenças com o objetivo de
influenciar nosso comportamento e direcionar nossas condutas, exercendo o controle
social.
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Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/01/1578565-
brasileiro-condenado-a-morte-na-indonesia-escolheu-ser-fuzilado-em-pe.shtml |
Na imagem acima, o brasileiro
condenado por tráfico de drogas na Indonésia. Sua execução gerou polêmicas,
pois de acordo com as leis daquele país, o tráfico deve ser punido com a pena
de morte. O governo indonésio respondeu às críticas pedindo respeito às leis
locais. Além do brasileiro, uma indonésia, um holandês, dois nigerianos e um
vietnamita também foram executados. As leis são exemplos de tentativa de
exercer um controle sobre a conduta dos indivíduos.
CONFLITOS
SOCIAIS
Falar de sociedade é
também de conflitos, motivados por diversas razões, sejam elas de origem
religiosa, política, econômica, familiar entre outras. Desde o surgimento da
Sociologia, muitos estudos vêm sendo desenvolvidos na tentativa de explicar as
causas de conflitos que abalam as sociedades, marcadas por divisões e disputas
por dinheiro e poder.
Uma greve de operários
é uma expressão de conflito que resulta da luta de classes numa sociedade,
patrões querem lucrar, pagando menos e explorando mais, empregados querem
maiores salários e melhores condições de trabalho. Manifestações e movimentos
sociais que reivindicam direitos para mulheres, negros, homossexuais, idosos
são exemplos da expressão de relações sociais em conflito. O governo que
controla o aparato de poder (Estado) geralmente utiliza seu braço armado para
reprimir tais movimentos. Quem já não presenciou cenas de policiais golpeando
com cassetes braços, pernas, cabeças de manifestantes em nome da ordem pública
da segurança.
VIOLÊNCIA URBANA: PROBLEMA SOCIAL PREOCUPANTE NAS
SOCIEDADES ATUAIS
Nas sociedades atuais
muitos conflitos são originados pela violência. Embora a Sociologia trate a
violência a partir de diversos ângulos, sejam eles materiais ou simbólicos, a
violência urbana configura-se como um problema social preocupante.
Uma pesquisa coordenada
pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz deu origem ao mapa da violência no
Brasil. O estudo realizado a partir da coleta de dados de taxas de mortes
violentas como homicídios em todas as regiões do país, revela resultados que
acenam para a necessidade de uma
profunda discussão sobre o problema da violência no país e a urgência na
implementação de políticas públicas visando minimizar o problema.
Para uma melhor visão e
compreensão do problema da violência urbana, especificamente a que resulta em
mortes por homicídio, o Mapa da Violência 2012, investiga o fenômeno do ponto de vista de
diferentes segmentos etários e sociais, como junto às populações de jovens,
mulheres e negros. Esta “humanização dos números”, ao dar rosto tanto para as
vítimas quanto para os perpetradores de atos de violência.
As conclusões da
pesquisa revelam fatos como a migração do crime para regiões do interior do
país, antes consideradas seguras. O levantamento revela também que os jovens são
as maiores vítimas de homicídios. Outra constatação alarmante da pesquisa é o
aumento do número de casos de violência contra a mulher e a alta taxa de
homicídios entre a população negra. De acordo com classificação por raça ou cor
das certidões de óbito, observou-se a tendência geral desde 2002 é: queda no
número absoluto de homicídios na população branca e de aumento nos números da
população negra.
Quais as razões para
que os negros sejam mais vitimas da violência do que os de cor branca?
De acordo com o sociólogo,
“estamos tratando com violência letal, isto é, violência em seu grau extremo, que
representa a ponta visível do iceberg da modernidade de nossas relações
sociais.” Para Jacobo a violência está relacionada a fatores preocupantes e que
não são apenas do Brasil, e sim de dimensão quase planetária, a exemplo do alarmante
incremento do consumo de drogas e do narcotráfico; além de diversas formas
emergentes de dominação e controle territorial que disputam com o Estado a
legitimidade do uso da violência, seja resultante do tráfico, de milícias, de
madeireiras ilegais ou interesses econômicos e políticos rondando grandes
empreendimentos agrícolas no arco do desmatamento. O autor também chama atenção
para o enorme peso de uma cultura da violência, onde as pessoas resolvem os
conflitos pela via do extermínio do próximo, cultura que, pelos dados
disponíveis, está se espalhando no país, contribuindo para uma banalização da
violência, onde a vida do ser humano, principalmente sendo este pobre, tem
pouco valor.
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Fonte: http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2014/11/30/noticiafortaleza,3355782/jovem-e-assassinado-na-avenida-beira-mar.shtml
Na imagem acima, jovem
de 24 anos é assassinato a tiros na Avenida Beira Mar em Fortaleza. Testemunhas
afirmaram que o mesmo já respondia por assalto e tráfico de drogas. De acordo
com pesquisas internacionais, a cidade é considerada oitava mais violenta do
mundo. No Brasil, centenas de jovens perdem a vida por algum tipo de
envolvimento com o trafico de drogas.
Podemos acrescentar aos
fatores acima citados, o alto de grau de impunidade reinante no país,
sinalizando para sociedade que o crime compensa, pois o transgressor não será
punido, além da corrupção dos agentes públicos no âmbito estatal, seja no
âmbito político e judiciário.
Na imagem acima, o desembargador Luiz Gerardo de Pontes Brígido, presidente do
Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) que admitiu haver um esquema de venda de
habeas corpus para traficantes de drogas durante os plantões judiciários, nos
fins de semana e feriados. De acordo com o mesmo, a venda ocorria desde
2011: “Temos indícios de que há uma rede organizada para conceder liminares
criminais. Dois desembargadores são investigados pelo CNJ [Conselho Nacional de
Justiça]. Há elementos também que incriminam advogados", admitiu o
desembargador. Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/policia/tjce-investiga-suposta-venda-de-habeas-corpus-nos-plantoes-1.997139
Outro aspecto
importante presenciado nas últimas décadas, refere-se um alargamento do
entendimento da violência, uma reconceitualização de suas peculiaridades pelos
novos significados que o conceito assume, de modo a incluir e a nomear como
violência acontecimentos que passavam anteriormente por práticas costumeiras de
regulamentação das relações sociais, como a violência intrafamiliar contra a
mulher ou as crianças, a violência simbólica contra grupos, categorias sociais
ou etnias, a violência nas escolas etc.
Se cada uma dessas
mortes tem sua história individual, as regularidades de casos as que nos possibilitam inferir que,
longe de ser resultado de decisões individuais tomadas por indivíduos isolados,
estamos perante fenômenos de natureza social, produto de conjuntos de
determinantes que se originam na convivência dos grupos e nas estruturas da
sociedade.
De acordo com o
pensamento do sociólogo anteriormente citado, podemos concluir que a sociedade
não é simplesmente o produto da ação e da consciência individual. Pelo
contrário, as maneiras coletivas de agir e de pensar resultam de uma realidade
exterior aos indivíduos que, em cada momento, a elas se adequam. Os resultamos
apresentados no mapa da violência, indicam que as diversas formas de violência
abordadas, longe de serem produtos aleatórios de atores isolados, configuram
“tendências” que encontram sua explicação nas situações sociais, políticas e
econômicas que o país atravessa.”
REFERÊNCIAS
BODART, Cristiano. O
que é instituição social? In: http://www.cafecomsociologia.com/2013/01/o-que-e-instituicao-social.html
COSTA, Cristina.
Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna,
2002.
GUIDDENS, Anthony.
Sociologia. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
OLIVEIRA, Pérsio Santos
de. Sociologia. São Paulo: Àtica, 2008.
SILVA, Diego Sabóia e.
Sociologia jurídica para principiantes. Sobral: Edição do autor, 2011.
TOMAZI, Nelson Dacio.
Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2010)
WAISELFISZ, Júlio
Jacobo. Mapa da Violência 2012: Os Novos Padrões da Violência Homicida no
Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br
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