
Para
iniciarmos nossas reflexões, é necessário fazermos a distinção do significado
de três termos, que são normalmente utilizados nas discussões sobre esse tema.
Você
sabe o que significa PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E RACISMO?
PRECONCEITO:
Conceito de opinião formada antecipadamente sem conhecimento dos fatos,
julgamento ou opinião formada sem levar em conta os fatos que os contestem.
Trata-se de um pré-julgamento, isto é, algo previamente julgado.
DISCRIMINAÇÃO:
Separar, distinguir, estabelecer diferenças. A discriminação racial corresponde
ao ato de apartar, separar, segregar pessoas consideradas racialmente
diferentes, partindo do princípio de que existem raças “superiores” e
“inferiores”, o que ficou definitivamente comprovado pela ciência que não
existe.
RACISMO:
Teoria que sustenta a superioridade de certas raças em relação a outras,
preconizando ou não a segregação racial ou até mesmo a extinção de determinada
minorias.
De
acordo com essas definições, o preconceito está presente na sociedade, mas não
necessariamente segrega ou discrimina, já a discriminação promove, baseada em
certos preconceitos, a separação de grupos ou pessoas. Por outro lado, o
racismo mata, extermina, produz o ódio entre grupos e indivíduos.
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO
RACISMO NO BRASIL
A
história da sociedade brasileira é marcada pelo racismo. Desde a chegada dos
portugueses no século XVI, até o século XX, na pós-abolição, a ideia de
inferioridade de algumas raças e da superioridade de outras foi amplamente difundida
por intelectuais, políticos, artistas, escritores, jornalistas. A defesa do
caráter superior ou inferior de povos, raças ou etnias foi usada em diversos
momentos da História como justificativa para o domínio violento de um povo
sobre outros e atualmente não encontra nenhum respaldo do pensamento
científico. A ideia de que os negros e os indígenas eram inferiores aos brancos
europeus, resultou em 400 anos de escravidão negra no Brasil e o extermínio de
grande parte da população indígena que aqui vivia muito antes da chegada dos
portugueses.
Quando
chega o fim da escravidão em 1888, essa ideia ainda permaneceu no cotidiano das
pessoas, sendo os negros considerados incapazes e por isso deveriam permanecer
realizando trabalhos braçais, pesados, de pouco prestígio na sociedade. Assim,
a inserção da população negra no mercado de trabalho após a escravidão não
ocorreu, a mão-de-obra foi rapidamente substituída pelos europeus e asiáticos
que aqui começaram a chegar no final do século XIX e início do século XX.
O
argumento usado pelos brancos europeus de que alguns grupos étnicos eram
inferiores a outros, era uma forma de garantir que esses homens que já estavam
no poder, continuassem nessa posição. Para isso, tudo que foi relacionado aos
povos africanos e indígenas foi considerado ruim, como, por exemplo, as
características físicas, cabelo, boca, corpo. As características culturais,
religião, organização social passaram a ser motivo de piadas, levando muitas
vezes a exclusão social do negro. Ainda hoje, formas sutis de racismo
expressam-se em brincadeiras e piadas ofensivas, ou até mesmo em olhares ou
frases do tipo “cabelo ruim”, “É negro, mas educado”, “moço pretinho, mas nem
parece”, “preto de alma branca”, tal preconceito percebemos até em uma velha
marchinha de carnaval bem conhecida que diz “O teu cabelo não nega mulata,
porque és mulata na cor, mas como a cor não pega mulata, mulata eu quero teu
amor”.
Posturas
racistas estão presentes até mesmo entre quem deveria dar exemplos de respeito
à diversidade. Recentemente uma professora universitária, com doutorado em
Antropologia, e que dá aulas de ciências das religiões afro-brasileiras, chamou
um segurança da Universidade Estadual do Pará de “macaco idiota” e “guarda
vestido de palhaço”. Grande exemplo de quem diz ser professor, talvez a doutora
não tenha estudado o conceito de etnocentrismo, se estudou, tudo não passou de
uma teoria que ela passou a reforçar em sua postura “etnocêntrica”. Em outro
caso, outro doutor, dessa vez um médico psiquiatra, ofende a funcionária de um
cinema em um shopping de Brasília. Entre outras ofensas, o doutor racista disse
a jovem que ela “deveria cuidar de orangotangos na África”. Tudo porque o mesmo
teria chegado atrasado na sessão de um filme, e queria passar na frente dos outros
clientes.
Sabemos
que o fim da escravidão, não trouxe a inclusão social da população negra na
saúde, na educação, no mercado de trabalho. Não são assegurados a eles os
mesmos direitos dos brancos. Isso tem se
expressado em índices estatísticos de escolaridade de jovens negros que se
apresentam inferiores aos dos brancos, também são os negros que recebem os
menores salários, possuindo o menor nível de renda, muitos morando nas
periferias das grandes cidades.
Dados
divulgados pelo mapa da violência 2012, revelam que a violência contra os
negros é maior inclusive em relação à taxa de homicídios. Os dados divulgados
na pesquisa realizada em todos os Estados brasileiros, mostram que, no Ceará, o
número de homicídios entre a população negra em 2010 foi de 1.613, enquanto que
na população branca esse número cai consideravelmente, contabilizando 275
homicídios no mesmo ano.
O
estudo também faz uma comparação com anos anteriores, mostrando que enquanto as
taxas de homicídios entre os brancos vem caindo ao longo dos anos, o número de
negros vítimas desse tipo de crime cresceu de forma assustadora. Conforme
apontam os dados abaixo:
•
Em 2002, o índice nacional de vitimização negra foi de 45,8. Isto é, nesse ano,
no país, morreram proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos.
•
Quatro anos mais tarde, em 2006, esse índice pula para 82,7 (morrem
proporcionalmente 82,7% mais negros do que brancos).
•
Já em 2010, um novo patamar preocupante: morrem proporcionalmente 139% mais
negros que brancos, isto é, bem acima do dobro!
Tais
dados revelam uma verdadeira chaga aberta na realidade social do país, dos
quais as maiores vítimas são os negros. Diante disto, faz-se urgente e
necessário a elaboração de politicas públicas que garantam a inserção social da
população negra, pois além de enfrentarem problemas de baixa escolaridade, sérias
condições de pobreza, ainda há uma barreira importante a ser vencida, que é a
barreira racial, a barreira que nos faz olhar o negro de forma preconceituosa e
inferior. É necessário, portanto, buscarmos desconstruir a visão negativa que a
própria sociedade construiu sobre o negro ao longo da história.
A
resistência negra diante do racismo e da desigualdade social que dele resulta,
sempre existiu. Hoje, ainda com muita luta do movimento negro em todo o país,
essa população tem garantido por lei os mesmos direitos que a população branca,
lutando para que suas características físicas não seja um fator determinante
para definir sua posição social, posto que não é a cor da pele que determina a
inferioridade de alguém, essa visão de que alguns são superiores e outros
inferiores por conta da “raça” é construída pela própria sociedade, uma
sociedade que ainda enxerga o negro como escravo, conforme salientamos. Por
outro lado, sabemos que a igualdade de direitos assegurada em lei, também pouco
modificou a situação de vida das pessoas negras, que ainda convivem com a
desigualdade social e o racismo diariamente.
Por Renata Sobral
FONTES:
Luiz
Fernandes de Oliveira e Ricardo Cesar Rocha. Sociologia para
jovens do século XXI”
Caderno
de metodologias de ensino e de pesquisa em sociologia. Iliezi Luciana Fiorelli
Silva [et. Al].
Mapa
da violência 2012. Disponível em: mapadaviolencia.org.br
INDICAÇOES DE LEITURA E
VÍDEO.
FILME
“VISTA MINHA PELE” DIREÇÃO: JOEL ZITO ARAÚJO
DOCUMENTÁRIO
“A ORIGEM DO HOMEM” (DISCOVERY CHANNEL)